A pequenez de Bolsonaro e o silêncio sobre Moraes Moreira e Rubem Fonseca

Rodrigo Casarin
22/04/2020 09h41
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress.
Incontornável na história da música brasileira, um dos Novos Baianos, homem que mudou a cara do carnaval… Moraes Moreira nos deixou no dia 13 de abril, segunda-feira retrasada.
Para muitos, o maior escritor então vivo do Brasil, a mente que ajudou a delinear a violenta realidade de nossas grandes cidades, autor de livros como "Feliz Ano Novo" e "A Grande Arte", Rubem Fonseca morreu no dia 15 de abril, há uma semana.
No dia seguinte foi a vez de partir Luiz Alfredo Garcia-Roza, criador do detetive Espinosa e responsável pelos romances policiais mais elogiados do país nas últimas duas décadas.
O que há de comum entre eles? A proximidade do fim da vida e a relevância artística, claro. Mas não só. A morte do três foi completamente ignorada pelo governo Bolsonaro, uma vergonha para o país.
Rubem Fonseca.
É certo que o homem na presidência não é muito afeito à arte e à cultura. Quando se manifesta nesse sentido, é para lamentar por MC Reaça ou para defender o direito de Gusttavo Lima encher a cara em suas lives. Palavras sobre a morte de Beth Carvalho? Sem chances. A respeito da passagem de João Gilberto, um dos nossos gênios? "Uma pessoa conhecida. Nossos sentimentos à família, tá ok?", apenas isso. É ridículo, é mesquinho, é medíocre, é indigno. Não que possamos esperar outra coisa de Bolsonaro.
Regina Duarte, nossa secretária Especial da Cultura, também se calou após a série de mortes. Não deu bola para Moraes Moreira, Rubem Fonseca e Garcia-Roza. Ninguém ganha cargo na claque bolsonarista por acaso. Truculência, desprezo e estupidez são ativos no Planalto. Para Regina, as músicas de Moraes, os contos de Rubem e os romances de Roza parecem não valer um pum de palhaço.
Nada disso surpreende, é verdade. Mas é triste. Se há uma coisa que não podemos nos permitir é acostumarmos com toda essa pequenez. Não dá para achar normal tamanha falta de sensibilidade com a nossa arte, com nossos grandes artistas.
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SOBRE O AUTOR

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

SOBRE O BLOG

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.

12 Comentários

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jazz section
E se fosse o contrário? A classe artística, de olhos vermelhos, diria: " Ah, ele era tão generoso, arte dele é insubstituível" ?
Analusena
Se o governo fosse lançar nota de pesar para todo artista que morresse, só faria isso. Artista morre todo dia! Morre um vem outro! E la nave va!

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0 Comentários