Por Chagas Botelho, radialista e contista.

Madrugada e as formigas.
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Outro feriado antecipado. O de hoje, por exemplo, é o 8 de Dezembro, o da Imaculada Conceição. Também padroeira de Barras, minha terra. O prefeito de lá, não fez como o de cá. Aqui, Teresina, decretada fechada. Já na cidade dos governadores, calendário respeitado. Regime aberto. Assim, santa e devotos celebrarão o dia no fim do ano, isto é, se o ano tiver fim. Por conta da pandemia, as datas andam estranhas. Nem o coordenado ciclo maia imaginaria tamanha esquisitice.
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Bem, madrugada de feriado, insônia cultivada. Não consigo pregar os olhos. Leitura, livros, nada me faz dormir. Apagar em berço esplêndido. Só me resta uma tarefa doméstica para encontrar o sono. Quem sabe ela me faça esmorecer. A de lavar louça. Sou um lava louça incorrigível. Vejo a pia lotada, prato cheio para fadigar mãos e corpo.
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Antes do começo. Retiro da pia, os não laváveis. Entre eles, um açucareiro. Esquecido em cima sabe lá por quem. Ao seu redor um exército de formigas. Miúdas e graúdas. A tropa carregava farelos fisgados às costas, sem celeridade. Uma fila indiana de soldadas lentas e ordeiras. Só não sabia para onde levariam tanto açúcar.
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Paciência e organização me hipnotizaram. Fitei até a última da fila, já meio sonolento. Quando descobri que essa última guerreira tomava o mesmo rumo das outras: o buraco da parede. Sumiram todas sem pressa alguma. Todas ao seu tempo. As formigas me deram uma lição de mundo: quem muito apressa a vida, muito pode ter a vida encurtada.

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