USINA SANTANA AÇUCAREIRA (diário do povo)

José Maria Vasconcelos, josemaria001@hotmail.com

 Festa de arromba na Usina Santana, 26 de julho. Festejo de Santa Ana e Joaquim, pais de Maria, mãe de Jesus, finalzinho dos anos da década de 1950. Frei Eliézer, vigário da Paróquia de São Raimundo Nonato, Piçarra, convidando-me para servi-lo na missa, na Usina Santana, uma indústria de açúcar, álcool e aguardente, fundada no início do século 20. Povoado apenas de uns trezentos trabalhadores da empresa no vasto canavial.
 A Usina Santana pertencia a Gil Martins, um dos primeiros industriais do Piauí. Sua filha, Maria do Amparo Alencar, nascida em 1914, casou-se com Válter Alencar, fundador da TV e Rádio Clube. Maria do Amparo ensinava as primeiras letras aos trabalhadores da Usina Santana.
 Distante da capital, acesso difícil à Usina, por estrada estreita e esburacada, meio à  floresta. De longe, avistava-se a indústria, imenso prédio e a chaminé de 52 metros atraíam as atenções no vazio agreste e canavieiro.
 Frei Eliézer parou, frente à minha residência. Amigos de meus pais, Martinho e Dedé, o frade me pegou, para ajudar na missa da Usina Santana. Magricela, menos de dez anos, entrei no gippe da empresa.
 Dia de festa na Usina. Comida farta e diferente do meu rega bucho na pobre Piçarra. Frio de lascar à noite. Primeiros raios de sol, vapores úmidos subiam do riacho que atravessava caminhos. Regressei à minha casa, feliz da vida, recordava o canavial, “cablocos” vestidos de branco na missa, o assédio dos fiéis ao Frei Eliézer, a benzedeira de imagens, a atenção principesca da família Gil Martins. Anualmente, nessa data, repriso o filme da minha infância.
- Frei Eliézer, como é que a gente faz para ser padre como o senhor?
- Você tem de viajar para o Ceará, estudar em nosso seminário.
Aí começava novo encanto, viajar, aos 12 anos, outro mundo incrustado em enorme prédio de Messejana, nas beiradas de Fortaleza. Enorme, longas clausuras, porém sem torre de 52 metros. Mais de 50 companheiros, orações, missas, futebol de areia, passeios ralos e raros, a chácara cheinha de fruteiras, a Lagoa de Messejana ao fundo, cenário do romancista José de Alencar.
O tempo ia passando, a testosterona acendia-me outros encantos. Dois anos em Parnaíba. Outros dois na Serra de Guaramiranga. Uma fruteira, Eva acenava-me para a bruma que subia do riacho que atravessava minha vida. E traçava outra missão.
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