VOU REBOLAR A BUNDA, HOJE (diário do povo, hj)
José Maria Vasconcelos, cronista, josemaria001@hotmail.com
Antes, desculpe o vulgar título. Afinal, vou pisar em cloaca fétida da música popular. Primeiramente, repare curiosa informação publicada no Portal Natal, ao comparar dois momentos da cultura musical no Brasil. Um quadro da seleção dos melhores artistas musicais, no ano de 1987, e a outra, de 2017:
1987: Primeiro Lugar: Roberto Carlos; 2-Djavan; 3-Marisa Monte; 4- Caetano Veloso; 5- Legião Urbana; 6- Gal Costa; 7- Gilberto Gil; 8- Marina Silva; 9- Renato Teixeira e Almir Sater; 10- Zé Ramalho.
2017: Primeiro Lugar: Pablo Vitar; 2- Luan Santana; 3- Anitta; 4- Marília Mendonça; 5- Ludmila; 6- Nego do Borel; 7- Simone e Simara; 8- Maiara e Maraísa; 9- MC Kevinho; 10- Thiaguinho.
As duas relações, claramente incompletas, porquanto ficaram fora, na primeira, nomes consagrados, como Tom Jobim, João Gilberto, Tim Maia, Elis Regina, Mílton Nascimento, Luís Gonzaga, Rita Lee, Raul Seixas e dezenas de outros de notável criação artística, presentes nas paradas das rádios e tevês. Jovens se encantavam, pediam bis, entendiam e interpretavam os versos bem elaborados, porque estudavam português e literatura sem os temperos da mediocridade.
A segunda relação, 2017, avança em ordem cavalar. Pouca gente se liga nos artistas, digamos, tragáveis, como Ivete Sangalo e algumas exceções sertanejas. O símbolo sexual da geração atual está marcada pela Anitta, rainha da favela funk e da bundície. Extenuante exposição erótica nos shows e programas de tevê, além de outras mais. Milionárias, afinal o produto comercial é de fácil digestão, apesar dos efeitos colaterais. Observe só um trecho de VAI, MALANDRA: Vai malandra an, na/E tá louca, tu brincando com o bumbum/
An, an tutudum an, na/Tá pedindo, an, na/Se prepara, vou dançar presta atenção/An, an tutudum an, na/Cê aguenta an, na/Se eu te olhar/Descer, quicar até o chão/Desce, rebola gostoso/Empina me olhando/Te pego de jeito.
Em recente artigo no jornal O Globo, o jornalista Marco Antônio Villa denominou a atual geração dos apaixonados por Anitta e similares antidepressivos, REPÚBLICA DOS RASTAQUERAS, termo arcaico de origem francesa que significa rude, ignorante, vampiro, cara de rico. Segundo o jornalista, crítico ferino da atual conjuntura esquerdista, “o Brasil tinha, há algum tempo, uma presença no mundo ocidental, dialogava, trocava ideias, projetava grandes artistas, como Chico Buarque, Caetano, João Gilberto... Hoje, somos um país fragmentado... O Brasil vive uma crise de identidade cultural... A ignorância se transformou em política oficial... Nesta conjuntura, é possível compreender como algumas figuras caricatas tomaram conta do cenário cultural. A cantora Anitta é o melhor exemplo. É elogiada como um verdadeiro símbolo do Brasil contemporâneo. Uma representante do país para o mundo. A música “Vai malandra” já foi chamada de novo hino nacional... No réveillon, na Praia de Copacabana, foi considerada a grande estrela. Brindou o público com frase de rara profundidade filosófica, como uma Hanna Arendt dos trópicos: “Vocês acharam que eu não ia rebolar a minha bunda hoje?” No país da Anitta, é indispensável dizer sim, sempre dizer sim. Há o medo manifesto de ser hostilizado por defender uma outra visão de mundo”. Perdoem-me, mais uma vez, mas que país é este onde até uma sessentona Grecten ainda posa de bumbum surrado para entrevistas e festivais?! PUM pra vocês da cloaca cult!
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