A moça e o espetinho de carne
Ela veste um vestido de tom verde floresta. É quase um tubinho. É a farda da empresa de plano de saúde onde trabalha. Desce ali a Rua São João, próximo ao Educandário Santa Maria Goretti, como quem dança em via pública. Ela têm ancas faceiras, que “balançam a caminho do mar”. O fraco vento, ainda assim, meneia sua farta cabeleira loira. Sua tez branca, da cor da lua, confronta um sol de quase meio dia. Sequer usa óculos escuros para amenizar a intensa claridade. Anda mesmo de cara desanuviada como o céu de outubro. Não é nem alta e nem mignon, tem a estatura exata de mulher que não sobra num abraço. Porém, todas as feições dela não me importam agora, me importa é observar o modo como ela come um espetinho de carne. Desses cheios de lipídeos, e não menos deliciosos, que são vendidos nas esquinas. Há uma maneira sui generis (como se dizia antigamente) dela degustar as rodelas aceboladas. As mordiscadas são firmes como seus passos em direção ao trabalho. Faz um cheio na boca de salivar quem lhe observa. Depois passa a língua entorno dos lábios a procura de algum farelo como se não quisesse desperdiçar nada. Após ingerir o último naco de carne, joga o espeto na lixeira, faz da palma da mão um lenço e entra na repartição limpando os dedos na barra do vestido. De posse dessa fascinante perseguição à moça desconhecida, cheguei à conclusão de que todo mundo, não importa a profissão, nem a hora e nem o local, adora um espetinho de carne, principalmente borrifado de fumaça.Por Chagas Botelho: radialista, programador musical da 91,9 e escritor nas horas de folga!

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