A legalidade venceu o primeiro round da luta contra o golpismo. O relatório de Sérgio Sveiter (RJ), deputado da Globo abrigado no PMDB, foi rejeitado na Comissão de Constituição e Justiça pelo expressivo placar de 40 votos a 25. Coube, então, ao tucano Paulo Abi-Ackel (MG) elaborar o novo texto, em que rejeita a denúncia, afirmando, o que é verdade, que o Ministério Público Federal não demonstrou os vínculos do presidente Michel Temer com o dinheiro recebido por Ricardo Loures. Abi-Ackel também dá destaque à óbvia ilicitude da prova — a gravação — e critica os termos do acordo do MPF com Joesley Batista. Essa versão foi aprovada por 41 votos a 24. Para derrubá-la em plenário, será necessário reunir 342 deputados.
Sim, foi uma vitória expressiva do Planalto, conquistada dentro das regras do jogo. Cuidado! Os que não gostaram do resultado estão fazendo lambança com os fatos e com a aritmética. Comecemos por esta. Aponta-se que os partidos da base promoveram até 20 mudanças na composição da comissão. Antes delas, a perspectiva seria, diz-se, de uma derrota do governo por 30 a 32.
Como é? Fiquemos primeiro nos números. Se esse placar de 40 inclui duas dezenas de substituições, então o governo não tinha 30 votos, mas 20. Se esses 20 que foram sacados votariam a favor do relatório de Sveiter, os que queriam golpear Temer somavam não 32, mas 52. Com a devida vênia, são contas alopradas. Estão misturando alhos com bugalhos.
A CCJ tem 66 membros titulares e 66 suplentes. Estão incluindo aí trocas na suplência, que não tiveram influência nenhuma no resultado. Segundo quem acompanhava isso na ponta do lápis, o governo nunca teve menos de 35 votos. Chegou a 40. Como Sveiter não participou da segunda votação, entrando um suplemente em seu lugar, 41 endossaram o parecer de Abi-Ackel.
Lambança com os fatos
Sim, líderes de partido da base promoveram mudanças na composição da CCJ. Defendi aqui explicitamente que se fizesse isso. A exemplo de toda tentativa de golpe, também esta tem lances sorrateiros. Infelizmente para a legalidade e a estabilidade, foi o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, quem escolheu Sveiter. Suas ligações com o grupo Globo, empenhado como nunca se viu em derrubar um presidente, eram notórias.
Sim, líderes de partido da base promoveram mudanças na composição da CCJ. Defendi aqui explicitamente que se fizesse isso. A exemplo de toda tentativa de golpe, também esta tem lances sorrateiros. Infelizmente para a legalidade e a estabilidade, foi o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, quem escolheu Sveiter. Suas ligações com o grupo Globo, empenhado como nunca se viu em derrubar um presidente, eram notórias.
Bastou Temer se ausentar do país para a reunião do G-20, e se criou, com impressionante rapidez, o “governo Rodrigo Maia”, que, oportunamente, também estava em viagem, mas muito presente em espírito. Houve até gente nomeando o “Ministério Maia”.
Isso, sim, é feio; isso, sim, está fora das regras do jogo; isso, sim, aponta para uma ação deliberada para tentar derrubar o presidente, independentemente do mérito da denúncia feita pela Procuradoria Geral da República. Trocar membros da CCJ é uma prerrogativa de que dispõem os líderes partidários. Do mesmo modo, podem as legendas fechar questão. O que esperavam? Uma espécie de renúncia branca de Temer? Ora…
Mais impressionante: Temer foi “derrubado” no fim de semana, não é?, e já era tido como carta fora do trabalho. Na terça-feira, numa votação histórica, o Senado aprovou a reforma trabalhista. Na quinta, a CCJ esmagou a conspiração, ao menos no ambiente da comissão. Assim como a maioria dos veículos de comunicação se negou a reconhecer a vitória do presidente na terça, ontem se podia ouvir pelos corredores que o placar da CCJ é artificial e não reproduz a verdade em plenário. Parece que é Temer quem tem de juntar 342 votos para ficar. Não! Ele pode nem ter voto nenhum! E terá uma penca! Seus adversários de esquerda e da direita xucra ou oportunista é que têm de somar dois terços. E eles não terão esse número.
Um ET que visitasse a Terra e se interessasse por Banânia certamente não entenderia como o presidente deposto do domingo obteve duas grandes vitórias em três dias.
Querem saber? Parte considerável dos jornalistas também tem de desembarcar da aventura golpista.
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